segunda-feira, 18 de julho de 2011

As sapatilhas de Megan Fairchild



Toda bailarina tem uma relação única e especial com sua sapatilha de ponta. Ao longo dos anos, aprendemos qual é a melhor marca, o que proporciona maior conforto, qual é a posição do elástico e da fita que conferem maior estabilidade, como cuidamos, etc. E é por razões tão especiais que cada bailarina, com sua sapatilha, se torna única.

Megan Fairchild, primeira bailarina do New York City Ballet, conta sua história. Ela ainda compartilha como descobriu sua melhor marca (a Freed of London), como realiza os ajustes, as modificações (amaciar, costurar fitas e elásticos, aplicar breu), como evita lesões, etc. Ela explica até como é importante que as bailarinas conheçam o fabricante de suas sapatilhas, tanto que parte do processo de fabricação das Freeds também é mostrado.
Aproveitem!



O objetivo de postar este vídeo aqui é mostrar que bailarinas demoram muito tempo para encontrar a sapatilha ideal. Às vezes, esse processo pode levar anos.

A sapatilha ideal é aquela que lhe proporciona maior conforto, estabilidade e segurança. Por isso, meninas, continuem sempre tentando, ok?

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Qual é a sapatilha ideal para o formato dos seus pés?



Durante a escolha da sapatilha de ponta, não basta saber de cor o nome de todas as marcas e modelos disponíveis no mercado, bem como todas as etapas a seguir no momento do ajuste. Tornar-se uma expert da tecnologia de sapatilhas em nada ajuda se a bailarina não conhecer seu próprio corpo e suas limitações (tanto físicas, como psicológicas).

Ainda tratarei das limitações psicológicas que uma bailarina enfrenta devido ao uso das sapatilhas de ponta. 

Mas hoje quero tratar de uma limitação física muito importante: o formato dos pés.

Pode-se classificar os formatos dos pés em três tipos distintos: Grego, Egípcio e Quadrado. Enumere os dedos dos pés, do dedão ao dedinho, de 1 a 5. Para cada formato, existem as seguintes fórmulas:

a.Pé Grego – 1<2>3>4>5;
b.Pé Egípcio – 1>2>3>4>5;
c.Pé Quadrado – 1=2>3>4>5.

Pé Grego: este tipo de pé possui o segundo dedo mais comprido que os demais.
Pé Egípcio: o dedão é o maior que todos os demais dedos, que diminuem de tamanho gradualmente.
Pé Quadrado: Este tipo de pé apresenta, pelo menos, três dedos do mesmo tamanho.

Não entendeu? A figura ajuda:



De forma bastante grosseira, pode-se considerar que o pé Egípcio possui a planta mais larga e o Grego a planta mais estreita. Entretanto, há pés largos ou estreitos para ambos os tipos Egípcio ou Grego.
O quadro abaixo dá uma excelente sugestão para as marcas mais adequadas aos formatos dos pés. Mas lembre-se de que é apenas uma sugestão.

O ajuste de toda sapatilha é individual e deve ser acompanhado, nas primeiras vezes, por um especialista ou por seu professor.

Este é apenas um guia prático para a orientação da escolha da sapatilha de acordo com as características anatômicas dos pés. Antes de verificar o quadro, determine o formato do seu pé, fazendo um contorno dele numa folha de papel e comparando o desenho com a figura acima.

ATENÇÃO: Leia todas as dicas abaixo do quadro antes de realizar a escolha.




Eixo vertical = Formato da caixa da sapatilha visto de lado (Quanto mais acima no eixo vertical, mais larga é a caixa. Quando mais abaixo no eixo, mais estreita é a caixa)

Eixo horizontal = Formato da caixa visto de cima (O lado esquerdo é mais estreito e o direito é mais largo)
* As informações do quadro têm propósitos apenas sugestivos. O quadro não garante a precisão absoluta do ajuste da sapatilha. Embora seja considerado apenas o aspecto da caixa, lembre-se que os demais itens da morfologia da sapatilha (altura da gáspea, do calcanhar, etc) também são importantes. Em geral, quanto menor o número da sapatilha, maior é a aparência do tamanho da plataforma e da caixa.
* O quadro não considera as diferentes larguras das caixas em um mesmo modelo de sapatilha (Geralmente, são as letrinhas A, B, C, etc impressas na sola da sapatilha)
* O quadro é o resultado de um estudo realizado pela Bordeaux. Portanto, é apenas um comparativo do tamanho das caixas e não é baseado em minha própria percepção ao calçá-las. Por esta mesma razão, modelos de sapatilhas brasileiras não foram incluídos.

DICAS E SUGESTÕES

Se você tem PÉ EGÍPCIO:

* Se o dedão e o segundo dedo, ou os três primeiros dedos têm aproximadamente o mesmo tamanho

É recomendada caixa de largura média a grande.
Se o arco plantar é alto – zona amarela clara a verde
Se o arco plantar é baixo (pé chato) – zona rosa clara a azul

* Se o dedão é maior que os demais dedos 

Este tipo de pé é provavelmente o que apresenta menor simetria com relação ao formato das caixas. Se a caixa for muito estreita, ela não acomodará o dedão. E se for muito larga, haverá sobra de espaço para os demais dedos, exceto o dedão, dificultando a técnica e aumentando o desconforto. É possível que você escolha sapatilhas de caixas mais largas. Entretanto, considerando o excesso de peso em cima do dedão, a escolha pode mudar para uma caixa de largura média.
O importante é acomodar os demais dedos com os ajustadores e ponteiras, alinhando a altura dos mesmos e distribuindo o peso em todos os dedos. Lembre-se que sapatilhas muito largas tendem a dirigir todo o peso do corpo para o dedão.

Se você tem PÉ GREGO:

*Se apenas o segundo dedo é maior

Caixas de largura média a estreita são recomendadas
Se o arco plantar é alto – zona amarela
Se o arco plantar é baixo (pé chato) – zona rosa
Para cada zona, escolha a sapatilha mais larga se o seu pé é largo. E a sapatilha mais estreita se seu pé é estreito. Mas cuidado para não escolher uma caixa muito larga, mesmo que você tenha pés largos. Isso pode aumentar o peso sobre o segundo dedo e causar dor.
Utilize ponteiras de gel e ajustadores para acomodar os demais dedos. Se seu pé é muito estreito, utilize ajustadores também nas laterais e nos calcanhares.

*Se o segundo e o terceiro dedos possuem mais ou menos o mesmo tamanho

Caixas de largura média a larga são recomendadas.
Se o arco plantar é alto – zona amarela clara a verde
Se o arco plantar é baixo (pé chato) – zona rosa a azul
Pés gregos com dedos de tamanhos equivalentes não se adaptam muito bem em caixas estreitas, oferecendo uma sensação de aperto nos dedos.

Se você tem o PÉ QUADRADO:

* Se o arco plantar é alto

Com relação à largura da caixa, recomendam-se as sapatilhas da zona verde
Se o pé é largo – modelos mais largos da zona verde
Se o pé é estreito – modelos mais largos da zona verde

* Se o arco plantar é baixo (pé chato)

Com relação à largura da caixa, recomendam-se as sapatilhas da zona azul
Se o pé é largo – modelos mais largos da zona azul
Se o pé é estreito – modelos mais largos da zona azul
Caixas muito estreitas poderão causar dor no dedão e no dedinho, mesmo que a largura do seu pé seja estreita.

E mesmo que as larguras sejam as mesmas…

Caixas de mesmo tamanho e mesma largura podem ainda ser divididas em: “arco alto em pé estreito” e “arco baixo em pé largo”.
Se o arco plantar é alto – zona amarela ou verde
Se o arco plantar é baixo – zona rosa ou azul


 O arco plantar é uma medida em Ortopedia dada pela impressão plantar. Basicamente, é como de define se a pessoa tem pé plano (pé chato), pé normal ou pé cavo. Há diversos problemas anatômicos relacionados com o arco plantar. Mas para nós, basta ter uma ligeira noção de como é o formato do arco de seu pé ou consultar seu ortopedista.



Apesar de todas as dicas, lembre-se de que o uso das sapatilhas de ponta, por melhor que seja o ajuste, não é confortável. É necessária uma grande dose de paixão e tolerância para encararmos o desafio. Mas somos bailarinas e para nós tudo é possível.
E então? Conseguiram utilizar o quadro? Já determinaram suas marcas de sapatilha? Boa Sorte a todass!!!

Referências:
Propedêutica dos Pés” – Dr. Caio Nery (Depto. de Ortopedia e Traumatologia da UNIFESP)
Pointe Shoes Fitting Guidelines” – Gaynor Minden (rev 3/05): New York
Pointe Shoe Quick Fit Chart” – Bordeaux (2002-2008)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ela é Bailarina



Esse Artigo de Cássia Pires é muito bacana, não só porque exprime um sentimento de quem decidiu dançar depois de adulta, mas porque se trata de sua próproa história.
Espero que gostem!!!


Quem disse que eu não posso dançar? Os olhos disseram. Comente sobre o seu desejo de fazer ballet e espere as reações. Entre o riso contido e o ar de reprovação, todos imaginam a mesma coisa. É uma bobagem.
Não é mais. As bailarinas adultas vão dominar o mundo e percebo que não estou exagerando. Olhe para onde quiser e encontrará uma de nós.
Aos 27 anos de idade, comecei com um sonho. Não era mais de infância, tampouco era impossível. Eu desafio a gravidade e a anatomia. Adulta, desafio o tempo. O convido para dançar e ser meu amigo. Ele é o meu grande partner.
Sinto que agora eu tenho um brilho diferente. Talvez seja a paixão pela beleza. O encanto pela delicadeza. O apreço pela feminilidade. O amor pela leveza. A minha força. Por trás da minha candura há pés que sofrem. O meu corpo inteiro descobriu o significado da palavra dor. E o que eu faço? Sorrio.
É mágico tomar o meu lugar na barra e ouvir o piano tocar. Nas aulas, esqueço a vida lá fora. Ali eu sou a minha primeira-bailarina preferida.
No palco, o outro lado. O figurino que aperta. O coque que repuxa. A meia-calça que incomoda. A música começa e surge o grande medo: o erro. Ele chega e a frustração vem de brinde. Desmancho por dentro, mas continuo firme. Centrada. Linda.
A busca pela perfeição é o pote de ouro no fim do arco-íris. Eu queria ser perfeita, mas não sou. Tento o mesmo passo mil vezes e não consigo. Sinto vontade de jogar as sapatilhas na parede. Em vez disso, eu choro. Brevemente. Depois as sapatilhas voltam aos meus pés e tento de novo.
Aprendi no primeiro instante que uma vez bailarina, é para sempre. O meu corpo nunca mais foi igual, nem a minha postura. O mundo está em descompasso, eu me mantenho no eixo. O mundo gira, eu acompanho e termino em quarta alongé. O mundo desmonta, eu continuo em primeiro arabesque. Em um mundo de desencontros, no ballet eu me encontrei.
Agora, ninguém me olha com desdém. Sou lembrada de outra forma. Sabe quem é ela? A bailarina.

Cássia Pires
http://cassiapires.wordpress.com/2010/07/11/ela-e-bailarina/