quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ela é Bailarina



Esse Artigo de Cássia Pires é muito bacana, não só porque exprime um sentimento de quem decidiu dançar depois de adulta, mas porque se trata de sua próproa história.
Espero que gostem!!!


Quem disse que eu não posso dançar? Os olhos disseram. Comente sobre o seu desejo de fazer ballet e espere as reações. Entre o riso contido e o ar de reprovação, todos imaginam a mesma coisa. É uma bobagem.
Não é mais. As bailarinas adultas vão dominar o mundo e percebo que não estou exagerando. Olhe para onde quiser e encontrará uma de nós.
Aos 27 anos de idade, comecei com um sonho. Não era mais de infância, tampouco era impossível. Eu desafio a gravidade e a anatomia. Adulta, desafio o tempo. O convido para dançar e ser meu amigo. Ele é o meu grande partner.
Sinto que agora eu tenho um brilho diferente. Talvez seja a paixão pela beleza. O encanto pela delicadeza. O apreço pela feminilidade. O amor pela leveza. A minha força. Por trás da minha candura há pés que sofrem. O meu corpo inteiro descobriu o significado da palavra dor. E o que eu faço? Sorrio.
É mágico tomar o meu lugar na barra e ouvir o piano tocar. Nas aulas, esqueço a vida lá fora. Ali eu sou a minha primeira-bailarina preferida.
No palco, o outro lado. O figurino que aperta. O coque que repuxa. A meia-calça que incomoda. A música começa e surge o grande medo: o erro. Ele chega e a frustração vem de brinde. Desmancho por dentro, mas continuo firme. Centrada. Linda.
A busca pela perfeição é o pote de ouro no fim do arco-íris. Eu queria ser perfeita, mas não sou. Tento o mesmo passo mil vezes e não consigo. Sinto vontade de jogar as sapatilhas na parede. Em vez disso, eu choro. Brevemente. Depois as sapatilhas voltam aos meus pés e tento de novo.
Aprendi no primeiro instante que uma vez bailarina, é para sempre. O meu corpo nunca mais foi igual, nem a minha postura. O mundo está em descompasso, eu me mantenho no eixo. O mundo gira, eu acompanho e termino em quarta alongé. O mundo desmonta, eu continuo em primeiro arabesque. Em um mundo de desencontros, no ballet eu me encontrei.
Agora, ninguém me olha com desdém. Sou lembrada de outra forma. Sabe quem é ela? A bailarina.

Cássia Pires
http://cassiapires.wordpress.com/2010/07/11/ela-e-bailarina/

6 comentários: